A TAP anunciou uma forte reformulação da sua operação, abandonando a política de crescimento agressivo e de diversificação de mercados e adotando uma de maior contenção e foco nos destinos mais rentáveis. No caso do Sá Carneiro, isso significa pelo menos alterações em 6 dos 17 destinos diretos servidos a partir do Porto: Barcelona, Funchal, Lisboa, Londres, Madrid, Nova Iorque e São Paulo. A esses há que somar Lyon, rota que estava previsto iniciar em aproximadamente um mês, mas que vai ficar na gaveta.
Recorde-se que a transportadora nacional apresentou um prejuízo de 118 milhões de euros em 2018, equivalente a uma margem negativa de quase 4%. Numa altura em que as grandes companhias europeias estão a rever em baixa as suas previsões de lucro, e que os acionistas privados da TAP preparam a abertura do capital à bolsa, uma política comercial mais conservadora parece quase óbvia.
A Azul anunciou hoje a intenção uma nova ligação direta entre o Porto e o aeroporto de Viracopos, em São Paulo. O inicio da operação está marcado para Junho de 2019, com o primeiro voo a descolar de São Paulo no dia 3 e a chegar ao Porto dia 4. A operação está programada com 3 voos semanais (3ªf, 5ªf e Sábados a partir do Porto), operados em equipamento Airbus 330-200 de 272 lugares e Airbus 330-900neo de 298 lugares. Com esta chegada, o aeroporto do Porto volta a contar com a presença de uma companhia brasiliera, duas décadas depois da antiga Varig ter descontinuado as suas ligações ao Francisco Sá Carneiro, enquanto a Azul terá no Porto o seu 2º destino na Europa.
São Paulo é a principal rota underserved do Porto neste momento. É um destino chave, não só pela importância que a própria cidade tem, mas também pelo seu papel como centro distribuidor para outros destinos no Brasil e na América do Sul. Neste momento, a oferta de voos diretos resume-se aos 2 semanais da TAP, e que são claramente insuficientes para a procura existente. Só a própria companhia portuguesa, segundo dados da própria, transportou em 2017 através da Ponte Aérea mais de 50.000 passageiros com bilhete adquirido no Brasil. A esses haveria que somar os que adquiriram bilhetes em Portugal, com partida do Porto, e os que fazem o trajeto com outras companhias através de escalas noutros aeroportos, como Madrid, Amesterdão ou Frankfurt, e os que usaram os voos diretos. Para referência, em 2017 apenas 1 de cada 20 passageiros em voos diretos Portugal-São Paulo usou um dos voos com origem/destino no Porto.
Para além dos passageiros há também a questão da carga. São Paulo foi, em 2017, o principal destino/origem de carga áerea de/para Portugal com 13.500 toneladas transportadas. Dentro desse total, apenas 5% foram movimentadas em voos diretos entre o Porto e São Paulo, (novamente) uma quota manifestamente baixa quando temos em conta a realidade do país. Por comparação, nos voos para Nova Iorque e Rio de Janeiro esse valor ronda os 10%, e para Luanda quase atinge os 20%. A carga de longo curso é aliás uma das grandes fraquezas do aeroporto, que consegue disputar a liderança da faixa atlântica a nível de carga europeia, mas é eclipsado no longo curso por falta de oferta.
Por sua vez, o aeroporto de Viracopos é o principal hub da Azul, a partir do qual a transportadora serve mais de 60 destinos, principalmente no Brasil. Concretamente, para a rota do Porto, será possivel fazer ligações em ambos os sentidos para cerca de 30 destinos, entre os quais Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Florianópolis ou Porto Alegre. Do lado do Porto, através da parceria entre a Azul e a TAP, deverá ser possivel fazer ligações a vários destinos Europeus como Madrid, Londres ou Munique, embora apenas Paris e Lisboa devam estar disponíveis como opção em ambos os sentidos.
Com a chegada da Azul, passam a ser 6 os operadores de voos diretos de longo curso a operar no aeroporto Francisco Sá Carneiro. A previsão é que entre todos consigam superar a marca de meio milhão de passageiros de/para o Porto em 2019, uma marca histórica no que respeita a tráfego de longo curso no AFSC.
Promo da Azul, aquando da chegada a Portugal em 2016. Foto: Azul Linhas Aéreas