A Ryanair anunciou ontem que o Porto será o próximo da rede a oferecer voos em conexão. O serviço, ainda numa fase de teste, está apenas implementado nos aeroportos de Bergamo em Milão e de Fiumicino em Roma. A inclusão do Porto neste grupo não é por acaso: é a 3ª maior base ibérica da companhia, conta com uma rede doméstica forte e com uma média de frequências por rota superior à da rede Ryanair.
Contrariamente às companhias tradicionais, a Ryanair aplica um modelo de conexões simplificado de soma de segmentos, ou seja, o preço do voo em conexão é simplesmente o da soma do preço dos voos do itenerário. Aliado ao modelo tarifário “passivo” da companhia irlandesa, que optimiza os preços de forma a que os aviões tenham sempre >90% de ocupação média, o efeito esperado a curto prazo é o de um aumento de receitas/rentabilidade nas rotas com ligações. Crescimentos visiveis no número de passageiros são possíveis, mas a médio prazo: maior rentabilidade permite aumentar frequências, aumentando assim o efeito hub que por sua vez aumenta o leque de novas rotas potenciais e assim sucessivamente.
As regras de conexão não foram especificadas pela companhia, no entanto, é expectável que sigam o já existente em Itália: tempo mínimo de espera no aeroporto de 2h30 e máximo de 6h, excluindo-se conexões que envolvam pernoitar no aeroporto de escala e combinações que repliquem rotas diretas operadas pela Ryanair. Aplicando estas regras a uma semana típica da próxima temporada de Verão, com base na atual programação, o potencial máximo é superior a 200 combinações semanais. Na tabela abaixo recolhem-se essas possíveis combinações com origem/destino Faro, Lisboa, Ponta Delgada e Terceira, via Porto:
No inicio do ano 2013, Michael O’Leary esteve no Porto para uma conferencia de imprensa onde estabeleceu como meta atingir os 4 milhões de passageiros transportados de e para o aeroporto Francisco Sá Carneiro num prazo de 4 anos. Um cenário considerado otimista na altura, uma vez que a companhia movimentava em todo o país uns cerca de 3.5 milhões de passageiros anualmente. Chegados a 2017, o homem forte da Ryanair voltou ao Porto para confirmar esse numero e perspectivar mais crescimento futuro.
Concretamente, para o Inverno deste ano a companhia irlandesa vai disponibilizar mais 12 destinos diretos relativamente a W16:
Carcassonne, Clermont-Ferrand, Copenhaga, Estrasburgo, Lille, Lorient e Tenerife, atualmente rotas sazonais e que são prolongadas à temporada baixa;
Cracóvia, Edimburgo e Nuremberga, rotas que iniciam este ano e que vão operar também no inverno;
Nápoles e Frankfurt-Main, novos destinos da Ryanair no Porto. No caso de Nápoles, será uma rota inédita no Francisco Sá Carneiro e contará com 2 frequências semanais (4ªf e Domingos). Já Frankfurt-Main, uma das linhas históricas do AFSC, contará com voo diário.
Com as novidades anunciadas para o Inverno, e com o Verão já programado, a Ryanair continuará a cimentar a liderança no aeroporto do Porto e a ser um dos principais responsáveis pelo novo recorde anual de passageiros, que este ano se deverá situar próximo dos 11 milhões de passageiros. A companhia irlandesa é uma das que melhor tem sabido acompanhar e estimular o crescimento do Porto, como se pode observar no gráfico abaixo:
Evolução relativa do tráfego do AFSC (OPO) e da Ryanair no AFSC (RYR). Tráfego 2013 = 100, * = estimativa
No período de 5 anos analisado, é fácil comprovar essa relação: enquanto o aeroporto cresceu a uma taxa média de 14%, a Ryanair cresceu no aeroporto a uma taxa média de 11%. Resta agora saber se a tendência se vai manter nos próximos anos. Os planos tanto da ANA como da Ryanair continuam a ser muito ambiciosos: Fernando Vieira, diretor do AFSC, estimou em cerca 16 milhões de passageiros o tráfego do aeroporto em 2022, equivalente a 8% de crescimento médio anual, ou ao dobro do tráfego de 2015. Já a Ryanair prevê para 2024 uma operação com 200 milhões de passageiros, o que significa duplicar o nº de passageiros que transportou em 2016 ou um crescimento médio anual entre os 8 e os 9%. A relação entre os números volta a ser evidente e convida ao otimismo.
Por outro lado, é público que o foco da Ryanair se tem movido cada vez mais para leste, onde estão algumas das economias com maiores crescimentos da Europa e onde a conectividade aérea está ainda pouco desenvolvida. Para o Francisco Sá Carneiro será também natural alguma perda de influencia da Ryanair à medida que entram mais operadores no aeroporto e que o tráfego de longo curso ganha alguma expressão, embora se possa argumentar que no leste que estão muitas oportunidades de crescimento também para o AFSC.
Certo é que a Ryanair tem sido um dos motores do aeroporto, e que com mais ou menos força, será quase de certeza um ator chave no desenvolvimento do aeroporto do Porto durante os próximos anos.